Tem sido comum nos últimos anos, que pais aflitos procurem psicólogos para tentarem entender suas crianças que, segundo eles próprios dizem, “saíram do controle”. Ao mesmo tempo, é crescente a constatação de professores e orientadores escolares que os pais não estão conseguindo controlar seus filhos. Alguns pais nos dizem que “as crianças de hoje não obedecem mais, não aceitam limites”, relatando situações de conflitos com os seus filhos onde sentem-se absolutamente impotentes no manejo destas situações.
Mas será que as crianças mudaram?
Certamente hoje as crianças têm mais acesso a informações, estão mais questionadoras e sentem-se mais seguras para fazer os seus enfrentamentos. No entanto, existe uma questão importante: essa criança não está se formando sozinha, está inserida em um núcleo familiar cujas intra-relações colaboram para a sua formação e lhes servem como modelo. E isso muitas vezes, é esquecido pelos pais, e à criança é depositada toda a responsabilidade por seus atos e atitudes.
Por volta dos anos 70, 80, o modelo de educação familiar e escolar até então vigente passou a ser profundamente questionado, e as novas teorias psicológicas e orientações pedagógicas traziam como fundamental a necessidade de um olhar qualitativamente diferente sobre a criança, olhar esse que valorizasse suas necessidades e seu processo de desenvolvimento individual. Os vínculos entre pais e filhos e mesmo entre professores e alunos se alteraram, com uma maior proximidade e o estabelecimento de francos diálogos. No entanto, parece ter havido alguns equívocos nesse processo e um deles, foi a confusão que se criou entre o significado de “limite” e “repressão”. Nesse sentido, essas palavras passaram a ser tratadas como sinônimos, e uma vez que estas novas correntes de saber questionavam a repressão, o limite também passou a ser questionado na educação das crianças. Conseqüentemente, excessos passaram a ser cometidos, e o limite, pedra angular na formação das crianças passou a não ser mais claramente estabelecido. O resultado é o caos que ultimamente observamos nas relações entre pais e filhos.
O estabelecimento de limites é fundamental para a formação da criança em indivíduo autônomo e inserido na sociedade, uma vez que ele permite que a criança discrimine suas competências, se adéqüe às regras sociais e se desenvolva integralmente. A ausência ou a fragilidade dos limites podem gerar perturbações como:
- dificuldade em desenvolver a capacidade de juízo e crítica;
- dificuldade no estabelecimento dos processos mentais que permitem a aprendizagem;
- desorganização do pensamento;
- intolerância à frustração;
- impulsividade que pode colocar em risco sua integridade física e psíquica;
- instabilidade emocional que pode favorecer o estabelecimento de quadros psicopatológicos;
- inadequação à ambientes de convívio social.
Colocar limites é trabalhoso, e não se consegue fazê-lo de forma violenta, mas é uma construção diária nas relações. Além do mais, construir esses espaços de discriminação nos leva também a ter que lidar com a nossa própria forma de estabelecer nossos limites, e é aí que muitas vezes os pais se perdem.
A informação também é um componente importante nesse processo, existindo uma literatura disponível para instrumentalizar os pais nessa tarefa. Sugerimos o excelente livro de Rosely Sayão, “Como educar meu filho?”, porém lembramos que não existe manual de instrução. Cada família e cada criança têm sua individualidade que precisa ser percebida e compreendida, portanto livros são instrumentos auxiliares.
Consultar um psicólogo também pode ser bastante valioso, uma vez que este profissional pode identificar áreas de conflito e colaborar em um processo de reorganização familiar.
Valdeli e Ana Angélica
sábado, 5 de junho de 2010
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