Em saúde mental, uma discussão tem sido crescente: a inserção do portador de transtorno mental no mercado de trabalho. Sem dúvida essa é uma discussão muito recente e até a bem pouco tempo inimaginável.
Se recorrermos à história, veremos que o doente mental ao longo do tempo ocupou o lugar daquele que era considerado perigoso, que causava riscos à sociedade, por isso, precisava ser isolado para não gerar problemas. Outras concepções colocavam o portador de transtorno mental no lugar do que era possuído por demônios ou eram bruxos e, também por esses motivos, precisava ser separado socialmente. Dessa forma, vemos que durante séculos, esses indivíduos eram excluídos do convívio social, sendo tratados de forma desumana em instituições ou asilos que não tratavam, pelo contrário, acorrentavam, puniam. Philippe Pinel, diretor do hospital de Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes. Nesse momento, iniciou o pensamento de se tratar esses indivíduos ao invés de punir, por se compreender que tratava de uma doença e não de bruxaria ou possessão demoníaca.
Se pensarmos que o tratamento é algo recente no que se refere à doença mental, a discussão com relação ao trabalho do portador com transtorno mental, é ainda mais atual e tem muito a se pensar. Entretanto, pode-se observar que já existem iniciativas nesse sentido, mostrando que é possível que isso se torne realidade.
Atualmente o Ministério da Saúde tem conhecimento de 156 iniciativas de geração de renda e trabalho de usuários de saúde mental. A maioria delas nasceu dentro dos serviços de saúde mental como nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), ambulatórios, residências terapêuticas, centros de convivência, como parte das ações de reabilitação psicossocial de seus usuários. As chamadas oficinas terapêuticas estão inseridas neste campo e têm servido como espaços de fomento às discussões sobre inserção no mercado de trabalho e na vida em comunidade.
As marcas da exclusão desde os primórdios do isolamento e dos maltratos do doente mental, ainda têm reflexos nos dias de hoje. Essas marcas não são percebidas apenas na sociedade em geral como para o próprio portador de transtorno mental. Este sofre enormemente com a exclusão e com idéia de que é incapaz. Esta idéia leva, conseqüentemente, a necessidade de tutela e proteção.
As iniciativas que visam gerar trabalho para essa população devem ser amparadas e valorizadas. O apoio, a capacitação e o financiamento são palavras chaves para o desenvolvimento das organizações formadas pelos usuários da rede de saúde mental. Dessa forma, pode-se contribuir para a geração de renda, para a reinserção social e, principalmente, para a melhora da auto-estima do portador de transtorno mental, que deixa de ocupar o lugar de incapaz para aquele que pode contribuir para uma sociedade mais justa e solidária.
Valdeli e Ana Angélica
domingo, 11 de julho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário