Como profissionais de saúde mental, procuramos nos manter constantemente atualizadas sobre matérias publicadas na mídia que de forma direta ou indireta, enfoquem questões referentes ao relacionamento humano, à saúde mental e qualidade de vida. Sendo assim, temos por hábito acompanhar as matérias publicadas no caderno do jornal Folha de São Paulo destinado ao público jovem, o Folhateen, na medida em que este é um dos públicos-alvo dos nossos atendimentos.
Qual não foi nossa surpresa ao encontrarmos, no dia 17/05/2010, na coluna “Internets” do referido caderno, matéria publicada pelo Sr Ronaldo Lemos que era um claro incentivo à pirataria. Na referida coluna este Sr fazia uma crítica ao fato de que proprietários do iPhone não conseguiam baixar diretamente da Apple jogos e aplicativos na medida em que a empresa não se submetia à lei de classificação indicativa de jogos e sugeria uma solução para o problema em questão (transcrição literal): “se no cadastro da loja da Apple você se identificar como argentino, um mundo imenso de jogos e outros aplicativos não disponíveis vai se abrir. A única exigência é que o candidato a 'hermano' coloque um CEP da Argentina (meu amigo recomenda o uso do CEP da Associação de Futebol Argentino, que é C1053ACB)”.
Ou seja, o referido colunista não só incentivava a transgressão como ensinava os passos para fazê-la! E mais, o senhor em questão tem formação em Direito!
Estamos vivendo tempos onde os valores éticos e de respeito à sociedade estão sendo constantemente atacados em detrimento de valores individuais, e embora fiquemos perplexos e indignados quando tomamos contato com situações como essa, nossa tendência geralmente é reclamar junto àqueles com quem convivemos, criticar a omissão da sociedade e... Calamos-nos. Porém resolvemos tomar uma atitude.
Escrevemos uma crítica ao colunista com cópia para a redação do caderno e ao ombudsman do jornal. O colunista, como era esperado, tentou minimizar sua atitude, colocando que estava somente “citando um fato de forma bem humorada”, porém a ombudsman, Sra. Suzana Singer acabou por reconhecer e concordar com nossa crítica, respondendo que “concordava com a nossa opinião sobre a coluna, uma vez que ela dava os passos para a pirataria”.
Não sabemos os desdobramentos que este fato terá, isso se tiver algum desdobramento. Não importa. O que realmente importa é que nos posicionamos como cidadãs e profissionais diante de pessoas que deveriam ser comprometidos com a ética, porém muitas vezes não o são. Gostaríamos sinceramente que este senhor se retratasse na sua próxima coluna, muito embora tememos que suas palavras tenham influenciado negativamente algumas das centenas de jovens leitores desse caderno.
Resolvemos postar aqui esse fato não para alimentarmos algum sentimento de vaidade, mas sim para dizer a vocês que muitas vezes nos omitimos diante de determinadas situações por acreditarmos que sozinhos não conseguimos nada. Isso não é verdade. Sozinhos, podemos fazer sim um trabalho que pode crescer, se multiplicar e efetivamente colaborar para pequenas transformações em nossa sociedade. Cada um de nós é um agente de transformação social, embora na maioria do tempo nos esquecemos disso...
Valdeli e Ana Angélica
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