quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ética na mídia: considerações sobre crítica à matéria publicada na Folha de São Paulo

Como profissionais de saúde mental, procuramos nos manter constantemente atualizadas sobre matérias publicadas na mídia que de forma direta ou indireta, enfoquem questões referentes ao relacionamento humano, à saúde mental e qualidade de vida. Sendo assim, temos por hábito acompanhar as matérias publicadas no caderno do jornal Folha de São Paulo destinado ao público jovem, o Folhateen, na medida em que este é um dos públicos-alvo dos nossos atendimentos.
Qual não foi nossa surpresa ao encontrarmos, no dia 17/05/2010, na coluna “Internets” do referido caderno, matéria publicada pelo Sr Ronaldo Lemos que era um claro incentivo à pirataria. Na referida coluna este Sr fazia uma crítica ao fato de que proprietários do iPhone não conseguiam baixar diretamente da Apple jogos e aplicativos na medida em que a empresa não se submetia à lei de classificação indicativa de jogos e sugeria uma solução para o problema em questão (transcrição literal): “se no cadastro da loja da Apple você se identificar como argentino, um mundo imenso de jogos e outros aplicativos não disponíveis vai se abrir. A única exigência é que o candidato a 'hermano' coloque um CEP da Argentina (meu amigo recomenda o uso do CEP da Associação de Futebol Argentino, que é C1053ACB)”.
Ou seja, o referido colunista não só incentivava a transgressão como ensinava os passos para fazê-la! E mais, o senhor em questão tem formação em Direito!
Estamos vivendo tempos onde os valores éticos e de respeito à sociedade estão sendo constantemente atacados em detrimento de valores individuais, e embora fiquemos perplexos e indignados quando tomamos contato com situações como essa, nossa tendência geralmente é reclamar junto àqueles com quem convivemos, criticar a omissão da sociedade e... Calamos-nos. Porém resolvemos tomar uma atitude.
Escrevemos uma crítica ao colunista com cópia para a redação do caderno e ao ombudsman do jornal. O colunista, como era esperado, tentou minimizar sua atitude, colocando que estava somente “citando um fato de forma bem humorada”, porém a ombudsman, Sra. Suzana Singer acabou por reconhecer e concordar com nossa crítica, respondendo que “concordava com a nossa opinião sobre a coluna, uma vez que ela dava os passos para a pirataria”.
Não sabemos os desdobramentos que este fato terá, isso se tiver algum desdobramento. Não importa. O que realmente importa é que nos posicionamos como cidadãs e profissionais diante de pessoas que deveriam ser comprometidos com a ética, porém muitas vezes não o são. Gostaríamos sinceramente que este senhor se retratasse na sua próxima coluna, muito embora tememos que suas palavras tenham influenciado negativamente algumas das centenas de jovens leitores desse caderno.
Resolvemos postar aqui esse fato não para alimentarmos algum sentimento de vaidade, mas sim para dizer a vocês que muitas vezes nos omitimos diante de determinadas situações por acreditarmos que sozinhos não conseguimos nada. Isso não é verdade. Sozinhos, podemos fazer sim um trabalho que pode crescer, se multiplicar e efetivamente colaborar para pequenas transformações em nossa sociedade. Cada um de nós é um agente de transformação social, embora na maioria do tempo nos esquecemos disso...
Valdeli e Ana Angélica

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Depressão pós-parto masculina

Não houve erro de digitação, o que você leu é verdade: existe depressão pós-parto masculina, e embora desconhecida, costuma atingir um em cada dez homens no período entre o início da gestação da mulher até o bebê completar um ano. Estes dados acabam de ser publicados no "Jama", periódico da Associação Médica Americana consistindo em uma revisão de 43 estudos com 28 mil participantes. Nos Estados Unidos, a taxa de prevalência é de 14%, porém no Brasil ainda não temos estudos concluídos que nos parmitam uma comparação adequada. O estudo aponta também a existência de correlação entre a depressão pós-parto masculina e a depressão pós-parto feminina.
Entre os vários fatores que podem funcionar como desencadeador desses casos podemos destacar:
- insegurança do pai em relação aos cuidados com o bebê
- insatisfação pela dificuldade em ter uma participação mais ativa nos cuidados com o mesmo
- insatisfação relacionada à vida sexual do casal nesse período
- dificuldades em se adaptar à nova situação
- dificuldades em identificar e compreender as novas necessidades de cuidados e afetos da mãe
- dificuldades em se adaptar às instabilidades de humor da mãe nesse período
- sentimentos de exclusão na relação mãe-bebê
- situação econômica familiar após o nascimento da criança.
A identificação do quadro pode se dar através da observação do comportamento do pai, principalmente se este manifesta sentimentos de competitividade com o bebê (ou se o ignora), se começa a passar mais tempo fora de casa e se tem comportamentos no sentido de afastar a mãe do bebê.
O auxílio terapêutico é o mais indicado em casos leves, porém em pacientes que já apresentem um agravamento do quadro, o acompanhamento médico é imprescindível.
É necessário atenção a este quadro, uma vez que dificuldades emocionais em um ou ambos os pais, certamente terão um impacto no cuidado com a criança, podendo gerar dificuldades também nesse período inicial de desenvolvimento emocional.
Valdeli e Ana Angélica