terça-feira, 20 de abril de 2010

Algumas considerações sobre a pedofilia

O escândalo envolvendo a Igreja Católica em casos de pedofilia, e as recentes notícias sobre a ocorrência de novos casos a cada dia tem levantado questões e gerado algumas distorções conceituais sobre essa grave psicopatologia, o que nos levou a fazer algumas considerações.
Sem dúvida alguma o assunto é complexo e não temos a pretenção de esgotá-lo nem tampouco de discorrer tecnicamente sobre o mesmo, na medida em que este blog não se destina somente a profissionais da saúde mental, mas pretendemos fazer alguns assinalamentos que nos parecem importantes.
A pedofilia, por definição, é uma perversão sexual onde a atração e o desejo sexual de um adulto está dirigido para crianças pré-púberes. Embora a maioria dos casos relatados envolva agressores do sexo masculino, o comportamento pedófilo não é característico do sexo masculino. Na verdade, especula-se que o comportamento pedófilo em mulheres ocorre de forma mais velada, através de uma erotização do contato físico e que de alguma forma não é prontamente identificado porque o ato de cuidar, acariciar e de tocar uma criança é socialmente interpretado, em um primeiro momento, como um ato comum relacionado à maternagem. Não existe nenhuma correlação entre a pedofilia e o homossexualismo, como algumas pessoas insistem em fazer, esta é uma afirmação inconsistente e preconceituosa, na medida em que a pedofilia pode ser encontrada em homossexuais e heterossexuais.
Sua etiologia não foi plenamente estabelecida até o momento. Por algum tempo, alguns estudos levantaram a hipótese de que as pessoas que praticavam pedofilia em algum momento de suas vidas pregressas foram vítimas de abuso ou violência sexual, porém não houve até o presente momento uma comprovação científica desta relação. Alguns estudos tem sido desenvolvidos no sentido de encontrar bases biológicas para tal comportamento, mas ainda não temos resultados consistentes e satisfatórios.
Embora os sintomas sejam claros, a pedofilia muitas vezes se apresenta em um quadro misto, sendo difícil em alguns casos determinar se ela é um quadro primário ou secundário a outras formas de perversão. Muitas vezes pedófilos também apresentam quadros de sadismo ou voyeurismo, por exemplo.
Existem poucos estudos na área da saúde mental que abordem essa questão, porque tais pacientes raramente chegam aos consultórios ou serviços de saúde buscando tratamento para esta patologia. Os pedófilos geralmente só são identificados quando seus atos são criminalmente denunciados. Isso ocorre porque tais pessoas na maioria das vezes conseguem ter uma vida com adequação e adaptação nos demais setores (familiar, social, ocupacional) ficando a perversão configurada no estrito campo da vida sexual. Não é incomum, por exemplo, que a denúncia do envolvimento de um membro da família em casos de pedofilia surpreenda aos demais, uma vez que essas pessoas conseguem ter uma funcionalidade em suas vidas.
A pedofilia é crime, é uma violência que se pratica contra a criança pré-púbere, ainda que com o seu consentimento, uma vez que é uma situação onde um adulto submete e subjuga um menor imaturo psiquicamente e sexualmente aos seus desejos.
Alguns estudos no campo da psicologia social tem apontado a erotização precoce das adolescentes através da mídia como um fator favorecedor ao surgimento dessas patologias. Sem dúvida que um meio ambiente permissivo, onde os limites são muito elásticos, somado à questões econômicas (turismo sexual, prostituição infantil em populações de baixa renda, por exemplo), políticas e culturais podem ser favorecedores à atuações psicopatológicas. Porém, não podemos esquecer que estamos falando de um transtorno grave, que não pode ser minimizado.
Muitas vezes as vítimas de pedofilia silenciam sobre o que vivem por medo, até porque o agressor muitas vezes é alguém pertencente à sua rede de relacionamentos. Nesse sentido, é de fundamental importância que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos à mudanças de comportamento nas crianças, uma vez que estes são os sinalizadores de situações de abuso e violência.
Valdeli e Ana Angélica

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