quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sobre a função paterna

O Dia dos Pais se aproxima, e não podíamos deixar de comentar sobre a importância que estes têm na formação das crianças e adolescentes.
Durante muito tempo, no ambiente doméstico, a responsabilidade da educação dos filhos era somente das mães. Ao pai, cabia o papel de provedor. Com a necessidade da inserção da mulher no mercado de trabalho, somado ao crescente número de divórcios, passou-se a dar maior atenção ao papel da figura paterna, como de importância ímpar na educação. No entanto, o que observamos é que muitas vezes esta mudança não se faz de forma tranqüila.
O papel de maior participação na educação dos filhos é um papel relativamente novo a ser desempenhado por alguns pais, e por isso mesmo, ainda gera alguns desconfortos, na medida em que muitos desses pais tiveram como modelos pais ausentes ou autoritários. Então, descolar-se deste modelo e criar uma nova forma de ser implica em deparar-se com situações geradoras de angústias e ansiedades.
Algumas vezes, na ânsia de resolver essas questões, alguns pais tentam comportar-se como extensões da figura materna, o que causa uma maior dificuldade no contato com os filhos.
Não obstante, muitas vezes mães têm dificuldades em delegar os cuidados do filho ao pai. Um dos argumentos mais utilizados por essas mães é que “o pai não cuidará do filho como ela cuida”, indicando uma desconfiança quanto à capacidade paterna de cuidar e educar. Diante disso, algumas vezes nos deparamos com situações onde a educação transforma-se em um verdadeiro campo de batalhas onde se travam enormes disputas que causam grandes prejuízos às crianças.
Inegavelmente mães e pais são diferentes, porque homens e mulheres se constituem de forma diferenciada. A questão é que é de fundamental importância que as crianças possam entrar em contato com essas diferenças, pois elas promovem o crescimento, a discriminação e a constituição da identidade.
O pai, com sua forma de ver o mundo, algumas vezes com mais racionalidade e pragmatismo, permite o desenvolvimento de habilidades sociais importantes, além de impor um limite entre mãe/filho de primordial importância na constituição psíquica das crianças. Muitas vezes é através do relacionamento com o pai que a criança adquire maior confiança em si mesma, porque muitas vezes são os pais que as colocam diante de situações desafiadoras, ao contrário das mães, que muitas vezes tentam proteger os filhos destas mesmas situações. É com o pai muitas vezes que a criança aprende a administrar sua agressividade e a desempenhar um papel mais ativo nas experiências que vive com o Outro.
É ilusório acreditar que a mãe pode suplementar o pai ou vice-versa. Cada um tem um papel importante e bem definido na educação, e o papel do pai é tão importante quanto o papel da mãe. Sem dúvida que isso não significa que cada um deve educar como entende que é o correto. Pai e mãe devem estar alinhados no que consideram educar, deve haver uma concordância nos valores e princípios a serem transmitidos, do contrário a educação torna-se caótica. Nesse sentido, o estabelecimento de uma comunicação de qualidade entre os progenitores é essencial.
Educar filhos não é uma competição sobre quem é o melhor, o mais bonzinho, o mais legal. Também não pode ser o lugar em que se disputa o amor filial, nem o campo para se resolver conflitos com as figuras parentais da geração precedente, nem é um campo de auto-afirmação. Educar é formar indivíduos e essa tarefa exige uma grande dose de tolerância, paciência e capacidade de administração de diferenças, e por isso mesmo, quando é compartilhada, torna-se mais suave para todos. Além do mais, crianças tendem a repetir o que vivenciam em suas casas: se são criadas em clima de respeito, tolerância e cumplicidade, certamente se tornarão adultos mais capacitados a administrar as questões relativas aos relacionamentos humanos que a vida lhes impuser.
Valdeli e Ana Angélica

Um comentário:

  1. Bom dia. Esse texto chega em um momento oportuno: véspera do dia dos pais. Mais e mais hoje vejo homens desempenhando com prazer sua função paterna. Tendo duas filhas em idade escolar, percebe-se a diferença entre as crianças que tem as duas figuras (pai e mãe) presentes e atuantes em suas vidas e as que podem contar apenas com a mãe. Sim, faz diferença. Percebo-as mais confiantes, mais seguras, menos agressivas porém ativas. Excelente texto, parabéns! Um abraço, Água.

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